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não deveríamos relegar os nossos próprios interesses em favor dos outros. Em algum lugar desse
espectro estaria o caminho para um mundo melhor.31
A mim, a realidade parece bem diferente. O atual leque de políticas públicas em discussão tem
tão pouca relevância programática quanto seus numerosos antecedentes: nem os Estados Unidos
nem qualquer outro poder orientaram-se pelo  meliorismo global . A democracia está sendo atacada
no mundo inteiro, até mesmo nos principais países industrializados; pelo menos a democracia no
sentido significativo da palavra, que supõe oportunidades para as pessoas tratarem de seus próprios
assuntos coletivos e individuais. Algo similar vale para os mercados. Os ataques à democracia e aos
mercados estão profundamente relacionados. Suas raízes estão fincadas no poder de entidades
empresariais cada vez mais interconectadas, cada vez mais dependentes de estados poderosos e
menos controláveis pelo público. O imenso poder dessas entidades vem crescendo como resultado de
uma política social que está globalizando o modelo estrutural do Terceiro Mundo, com setores
incrivelmente ricos e privilegiados lado a lado com o aumento  da parcela dos que irão labutar sob as
agruras da vida e alimentar secretas aspirações de uma distribuição mais igualitária de suas
bênçãos , como previu James Madison, o principal estruturador da democracia norte-americana, há
dois séculos32, Essas opções políticas são absolutamente evidentes nas sociedades anglo-americanas,
mas se estendem por todo o mundo. Elas não podem ser atribuídas àquilo que o  livre mercado
decidiu em sua infinita e misteriosa sabedoria 33, ao  ímpeto implacável da  revolução do mercado  ,
ao  inflexível individualismo da era Reagan , nem à  nova ortodoxia que  dá rédea solta ao mercado .
Ao contrário, a intervenção estatal, desempenha um papel decisivo, como no passado, e os contornos
básicos dessas políticas dificilmente podem ser vistos como novidade. As versões atuais refletem a
 clara subjugação do trabalho pelo capital durante mais de quinze anos, segundo a imprensa de
negócios34, que relata freqüentemente, com precisão, as concepções de uma comunidade de negócios
altamente consciente de sua condição e dedicada à guerra de classes.
Se essas idéias são válidas, então o caminho para um mundo mais justo e mais livre está muito
afastado do campo delimitado pelo privilégio e pelo poder. Não pretendo aqui provar essa conclusão,
mas apenas sugerir que ela é verossímil o bastante para ser analisada com atenção. E pretendo
sugerir ainda que as doutrinas predominantes dificilmente sobreviveriam se não fosse por sua
contribuição para a  arregimentação da opinião pública, da mesma forma como um exército
arregimenta seus soldados , para citar novamente Edward Bernays, quando expôs ao mundo dos
negócios as lições que haviam sido aprendidas com a propaganda do tempo de guerra.
De maneira surpreendente, nas duas democracias mais importantes do mundo havia uma
crescente consciência da necessidade de se  aplicarem as lições dos sistemas de propaganda
altamente bem-sucedidos da 1ª Grande Guerra  à organização da guerra política , como colocou a
questão o líder do Partido Conservador britânico há setenta anos. Nos Estados Unidos, os liberais
wilsonianos, dentre eles conhecidos intelectuais e notáveis figuras da ciência política então em
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desenvolvimento, chegaram às mesmas conclusões, na mesma época. No outro extremo da civilização
ocidental, Adolf Hitler jurou que da próxima vez a Alemanha não seria derrotada na guerra de
propaganda, e também concebeu seus próprios métodos para aplicar as lições da propaganda anglo-
americana à guerra política interna.35
Enquanto isso, o mundo dos negócios alertava para o  risco com que se defrontavam os
industriais no  recém-percebido poder político das massas e para a necessidade de livrar e vencer  a
perpétua batalha pelas mentes dos homens e  doutrinar os cidadãos com a crônica do capitalismo
até que  eles sejam capazes de repeti-la com absoluta fidelidade ; e assim por diante, numa torrente
impressionante, acompanhada por esforços ainda mais impressionantes.36
Para descobrir o verdadeiro sentido dos  princípios políticos e econômicos ditos  a onda do
futuro , é evidentemente necessário ir além dos floreios retóricos e pronunciamentos públicos e
investigar a prática efetiva e os documentos internos. O exame cuidadoso de casos particulares é o
caminho mais frutífero, mas eles devem ser escolhidos com muito cuidado, para que apresentem um
quadro justo. Há algumas diretrizes naturais. Um método razoável é tomar os exemplos escolhidos
pelos próprios proponentes das doutrinas, os seus casos mais fortes. Outro é investigar documentos
em que é máxima a influência e mínima a interferência, de forma que possamos enxergar os
princípios operativos em sua forma mais pura. Se queremos determinar o que o Krernlin entendia por
 democracia e  direitos humanos , devemos dar pouca importância às solenes denúncias do Pravda
sobre o racismo nos Estados Unidos e o terror estatal de seus regimes clientes, e muito menos aos
reclamos de suas nobres motivações. Muito mais instrutivo é a realidade das  democracias populares
no Leste europeu. Essa é uma questão elementar que se aplica também ao autodesignado  guardião e [ Pobierz caÅ‚ość w formacie PDF ]

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